Que delícia ver a patrulha sendo patrulhada. Ao cortarem um
pedaço da matéria publicada na Folha, e tirarem todo o contexto, a patrulha
ideológica finalmente rompeu as fronteiras e limites que protegiam seus
comparsas. Agora tudo e todos estão sob o temido escrutínio dos bastiões da
verdade e da justiça. Não existe mais lugar seguro. Não existe mais imunidade.
Como é bom ver o carrasco sentir na pele o gosto amargo do
couro do seu chicote.
Uma amiga, debruçada sobre o caixão que guarde inerte o
corpo de uma pessoa tão amada e querida, não pode lembrar dos inúmeros momentos
felizes compartilhados e sorrir mesmo que momentaneamente sem que os abutres
busquem “intervenções morais” que na verdade nada mais são que uma sede
sensacionalista por cliques. Sorriso este certamente involuntário que consegue
emergir por entre um mar de sofrimento e saudade que se anuncia diante da perda
de tão amada amiga e companheira de palcos.
Existe uma conexão única, assim como tantas outras em outros
momentos, que somente quem está em cima de um palco dividindo um momento mágico
proporcionado pela música consegue entender. É um momento onde os olhares se
cruzam e a ponte criada compartilha infinitas sensações e emoções. Um momento
que será eternizado no coração de quem estava lá. Um sentimento puro, quase
animal, que nenhum destes “patrulheiros do riso alheio” será capaz de
experimentar um dia.
A liberdade de expressão morreu, e com ela se foram as
possibilidades de debates inteligentes com foco nas ideias e fatos. Hoje em dia
a narrativa, seja ela de qual lado parta, é mais importante que se calçar nos
fatos para emitir uma opinião ou julgamento. Simplesmente a verdade não
importa. Eu aprendi desde pequeno que toda história tem três lados, o meu, o
seu e a verdade. Infelizmente hoje em dia cada um brande o “seu” como se fosse
uma bandeira da salvação e faz de todos que discordarem inimigos mortais buscando
destruir reputações, carreiras, vidas.
O cancelamento é uma doença que, graças a Odin, está
atingido também os canceladores. E mesmo assim as vozes corajosas que se
escondem no anonimato das multidões pela internet não aprende a lição e
continua alimentando o monstro que está fadado a consumir a si próprio tal como
uma cobra burra. Quando o termo “politicamente correto” apareceu eu temia por
pelo futuro que é nosso atual presente. E advirto que ainda vai piorar pois os
canceladores não gostam de ninguém, muito menos de seus iguais.
Existe apenas uma raça, humana. Aqueles que a dividem por
etnia, cor, origem ou opções sexuais não faz parte dessa raça. Esse tipo de
pessoa faz parte da raça de desgraçados infelizes, geralmente de bilau pequeno
(independente do sexo), mal-amados e sem caráter. Cada opção deve respeitar a
opção do outro, as tradições do outro e as opiniões do outro. E isso deve ser feito
gostando e concordando ou não. Não gosta de gay? Não case com um. Não gosta de
hétero? Não dê para um. Não gosta de preto? Então aprenda a cantar, jogar bola,
envelhecer mais lentamente, gaste 40K para ter dentes mais bonitos e implante
um braço de neném no lugar desse birro vergonhoso que você tem no meio das
pernas. Só não encha a porra do saco de ninguém.