Ele abre os olhos, sente o cheiro de terra molhada invadir seus pulmões, deitado no chão sente-se encharcado até a alma, mas o silêncio ensurdecedor indica que a chuva parou.
As paredes da caverna já não guardam mais mistérios nem trazem mais respostas, seu coração anseia por conhecimento e seu sangue ferve perante o desconhecido. O futuro já passou, deixou para trás um passado desabrido e largou-o órfão no seu presente.
Por algum tempo exilou-se nas profundas cavernas de sua mente, talvez o único lugar seguro hoje em dia, e deixou o mundo correr por sua vontade e sorte. Estava cansado de fazer parte de todo aquele circo e ser a atração principal.
Esteve fora por algum tempo, não percebeu as mudanças ao seu redor, não percebeu a crueldade e arrogância florescendo e consumindo os bons frutos antes mesmo de brotarem.
Em uma noite sem luar uma forte chuva varreu as lembranças e expurgou seu coração.
Assim encontramos nosso eremita sem culpa.
Um coração puro, nato, uma alma velha com poucas perguntas, com várias respostas, bastava mais um ciclo e a jornada estava terminada.
Infelizmente mesmo os mais experientes agregam carmas por suas passagens finais e devem voltar para resolvê-los...
A taciturnidade do ambiente enlouquece sua mente e coloca-o de volta ao jogo.
Ensaia meia dúzia de palavras e explicações, mas é subitamente interrompido por uma presença à beira da caverna.
Sua imagem distorcida não permite identificar sua origem nem definir sua forma, pela escuridão o orvalho reluz uma tímida lua despontando ao norte da caverna, revelando uma silhueta sombria e já conhecida.
Seus olhos negros como a noite concentram o fogo da vaidade humana e basta apensa um olhar para trazer à tona todo conhecimento adquirido durante eras de viagens.
Ele sente um gélido calafrio percorrer cada espaço de sua alma e a exaurir suas forças lentamente, sua força de vontade sucumbe perante a lembrança do que o mundo se tornou.
A Fênix negra abranda seu fogo e mergulha de volta no vulcão.
Novamente ele fecha os olhos e mergulha na sua mente, em busca do segundo eterno.
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